sábado, 1 de fevereiro de 2014

Amor à Vida

Por Marlon Vila Nova

Hoje a rede Globo quebrou um tabu da própria emissora e, no último capítulo de Amor à vida, exibiu o primeiro beijo gay da história das novelas da emissora. Uma cena linda que, para surpresa de muitos que esperavam comentários de repulsa, ouvia-se gritos, comemoração e até foguetes, como se o time preferido tivesse feito um gol. A cena gerou um alvoroço e foi muito elogiada, mas não foi o que mais tocou as pessoas nesse último capítulo da novela.
Como desfecho principal da trama, os personagens César e Félix, interpretados por Antônio Fagundes e Mateus Solano respectivamente, protagonizaram o que foi considerado por muitos o final mais bonito de todas as novelas já vistas. Particularmente entendo o motivo. Na cena, o filho que sempre foi claramente rejeitado pelo pai e que veio a cometer atos de intensa maldade por conta dos problemas psicológicos que essa gerou, consegue vencer uma luta interna e dizer ao pai que o ama. Em resposta, o pai - que sempre maltratava o filho em suas tentativas de demonstração afetiva - responde que também o ama. O fim da novela, com um close dos dois de mãos dadas ao som da sinfonia número cinco de Mahler, na praia, de frente pro Sol, arrancou lágrimas de grande maioria do público que assistia.
É fato que grande parte do público que assistia ao último capítulo era de gays ansiosos pelo tão esperado beijo. Por esse motivo, grande parte do público se emocionou tanto com a cena entre pai e filho. Não posso dizer por todos, mas acredito que, como eu, muitos sofrem o mesmo problema de relacionamento com seus pais. Aquilo não foi bonito só porque conhecíamos os personagens e sabíamos da dificuldade e do significado daquele gesto, mas porque conhecemos nossos próprios pais e sabemos como queríamos ouvir aquilo deles.
Era o final da minha formatura em 2005, no final da festa eu estava tão bêbado quanto meu pai. Nunca tinha dançado com ele antes, ele nunca tinha me abraçado tanto como naquele dia, nunca tinha o visto tão feliz comigo. Ele estava tão orgulhoso de mim e eu tão feliz por poder lhe proporcionar aquilo. No final da festa, eu acabei brigando com uma colega de turma e ele veio em minha defesa. Acabamos os dois chorando, abraçados. "Eu te amo, pai!", eu disse. "Eu também te amo, meu filho!", ele respondeu. E eu não parei mais de chorar até adormecer naquele dia. Não sei se ele se lembra disso. Nunca mais falamos a respeito. Tenho pra mim que ele não se lembra. E isso me faz pensar que ele provavelmente não tenha nenhuma memória dele dizendo que me ama, e nem minha dizendo que o amo.

E por isso essa cena de hoje me deixou engasgado, com um nó na garganta, que só vai sair quando eu chorar tudo de novo. E por isso tanta gente foi tocada e esse final foi tão lindo. Porque mostra duas pessoas que se amam, se aceitando, se despindo de escudos, e libertando esse amor que ficava preso, sufocando a alma. E é tão lindo ver tudo que escreveram e disseram sobre o último capítulo. E eu sei que esse sucesso todo se deve ao fato do final ter sido puro amor. E as pessoas andam muito carentes disso. Amor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emocionante sua história, amigo!

Lindo como escreveu tudo!

Bjo!!!

Tânia

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...