quarta-feira, 28 de março de 2012

Desabafo de um artista doente

Por Marlon Vila Nova

"Toma cuidado com as pessoas daqui. Elas
são muito falsas." - me disse
a RH da empresa no meu primeiro
dia de trabalho em São Paulo.
"Você não precisa ser tão educado e simpático
com as pessoas daqui como você é
normalmente. Ninguém aqui da muita
importância pra isso não." - aconselhou
meu primo logo que me mudei pra cá,
antes de ir pro meu primeiro dia de trabalho.

Quando quis sair de Goiânia, vim embora porque decidi que não havia mais nada o que fazer lá. A cidade já tinha "ficado pequena demais pra mim", como eu dizia. E cheguei em São Paulo com aquela sede de quem chega querendo explorar e conquistar tudo. Fiz amigos muito rápido e na mesma velocidade fui conquistando meu espaço. Ou será que não?
Nunca pensei que a vida de artista fosse fácil. E eu nunca tive medo de enfrentar as dificuldades que ela me proporcionaria. Eu vivo sem problemas com minhas dificuldades financeiras, correndo feito um louco pra ganhar uma miséria e pagar só a metade do que eu devo. Mas quando eu fico doente como agora e não tenho dinheiro pra comprar nem o remédio que eu queria, da uma revolta, sabe? E eu penso: E se eu ficar doente de verdade um dia ou algo sério me acontecer? Com que forças financeiras eu vou enfrentar isso? Da um medo...
Quando foi que o mundo todo resolveu que giraria apenas em torno do dinheiro? E quem foi que permitiu isso? Uma amiga me disse hoje que vai prestar residência de novo pra mesma coisa porque eles estão pagando o dobro agora. Quer dizer, ela não precisa, já sabe tudo daquilo porque já estudou uma vez, mas vai passar por tudo de novo, só porque "estão pagando mais". Um monte de outros amigos estão se matando a anos pra prestar concurso porque "o salário é bom". Eu tenho pavor de concurso. Nunca quis prestar. Concurso pra mim significa ficar preso pro resto da vida na mesma função por conta do salário. Imagina você acordar pro resto da sua vida sabendo exatamente o que você vai fazer e repetindo diariamente a mesma coisa. Em contra partida eles terão o que eu, pelo visto, nunca vou ter. Estabilidade, segurança... Eles não vão ter medo. E vão ter plano de saúde e todos esses direitos que as pessoas que vivem em função do dinheiro têm.
O que mais me dói mesmo, é quando eu fico assim doente - e naturalmente mais frágil e carente - e que não tenho minha mãe pra vir me dar um abraço, me fazer bolo e levar com leite na cama. Meus amigos de Goiânia faziam isso pra mim quando não tinha minha mãe por perto. Mas aqui em São Paulo... bem, as pessoas estão ocupadas demais ganhando dinheiro da forma delas. Eu fiz meu próprio bolo hoje, pra sentir como se estivesse mais perto dela, minha mãe. Mas fiz uma receita bem simples e não ficou tão gostoso. Porque aqui em casa não tinha ovo.
Eu confesso que penso em desistir de tudo e virar mais um entregue às convencionalidades do mundo. E eu sinto como se tivesse traindo minha missão aqui quando penso nisso. Se eu ao menos tivesse nascido sem talento e essa minha vontade fosse um capricho meu. Mas não é o caso. Eu sei que sou bom. Eu nunca ouvi alguém dizer o contrário. Quando me imagino vivendo sem fazer o que eu gosto, me imagino triste, vivendo por viver... me vejo com depressão até morrer, assim, sem ter vivido de fato.
Eu não devia estar tão perdido assim na minha idade. Mas o que fazer quando não depende só de mim? Quando as oportunidades não são mais dadas a todos que têm talento e o modo como elas chegam é em, grande maioria, de forma corruptiva?
Eu não vou desistir ainda de lutar. É que hoje eu estou mais sensível. E também acho que não precisava publicar nada disso. As pessoas não devem divulgar suas fraquezas, não é o que dizem? Mas eu tenho o direito a um desabafo. E eu vou usufruir dele. Pelo menos enquanto eu puder me expressar de graça.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Daqui de cima tudo é lindo!

Por Avareza

O dia está um bonito estranho. O Sol continua a brilhar, mas uma chuva estranhamente forte começou a cair mesmo assim. Uns pingos grossos, pesados... chuva bem forte, que atrapalha a vida de quem estava andando desavisado lá embaixo, no mundo.
Eu, que só olho de longe o que consigo enxergar pela janela fechada onde a chuva insiste em tentar entrar, admiro a beleza disso tudo ignorando o caos que se forma la embaixo.
Eu mereço apreciar somente a beleza disso - penso eu -, afinal, quantas vezes eu já não estive lá embaixo. Por baixo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O pior e o... pior de mim

Por Ira

_ O que houve?
_ Eu me irritei.
_ De novo? O que foi dessa vez?
_ O mesmo de sempre. Exatamente igual. Absolutamente nenhuma desculpa diferente ou respeito à minha inteligência. O óbvio anda me irritando.
_ Era óbvio que um dia você ia se irritar.
_ Eu sabia que ia ser assim, até pedi pra parar. Disse que não queria mais conversar hoje. Mas ele insistiu. Era óbvio o discurso, era óbvio eu me irritar, era óbvio que eu devia tê-lo deixado falando sozinho. Como eu me deixei, de novo, abalar?
_ Tudo tem limite, sua paciência também... Vamos morar logo juntos, nós dois?
_ Você também não me aguentaria. Eu estou virando uma pessoa pior, eu acho.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Home sweet home

Por Preguiça

Ele que sempre sentiu medo de tudo de ruim que o mundo poderia lhe fazer, de repente percebeu que tanto medo acabara por lhe dar tanta força que, hoje em dia, não existia nada que lhe assustasse mais (exceto os extras terrestres, que ainda o deixavam meio aflito).
Nunca quis morar sozinho. Meio deprimido que sempre fora, achava a solidão algo muito triste. E por nunca ficar sozinho acabou nunca sabendo ao certo quem era ele. Havia se tornado um especialista nos outros. Não havia quem não o procurasse para conselhos. Ele conhecia todo mundo melhor que a ele mesmo. E conhecia alguns melhor que os próprios alguns.
Depois de tantos anos dividindo apartamentos com amigos pelo medo de sentir a tristeza que viria com a ausência de ouvidos em casa quando chegasse do trabalho, sentiu uma súbita vontade de morar só.
E quando ficou feliz pelo sinal de maturidade por finalmente sentir vontade de ter seu próprio espaço, o alertaram para o fato de que, na verdade, ele já vivia só há muito tempo, apenas dividia um espaço físico. E percebeu que dividir um espaço nem sempre quer dizer que se tem companhia.
E desde então tem se perguntado quão bom ou ruim pode ser isso.
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