terça-feira, 19 de maio de 2015

O dia em que ele não morreu

Por Marlon Vila Nova

Eu nunca tive ainda um contato muito próximo com a morte. Não tive que me despedir de nenhum membro muito próximo da família e nenhum amigo partiu ainda, me deixando pra trás. Não tenho, portanto, uma noção muito clara de como será passar por tal situação quando esse momento triste chegar para mim.
Era 6h30 da manhã e meu celular tocou me acordando. No identificador de chamadas vi o número da minha mãe, e pelo horário, já imaginei que fosse uma notícia parecida. Minha avó me veio imediatamente à cabeça, já que ela está sofrendo muito na luta contra o câncer. Ao atender, já preocupado, ouço minha mãe chorando peguntando se eu estou bem. Respondo que sim e pergunto o que aconteceu. A ligação cai. Quando ela me retorna está ainda mais alterada gritando por mim e perguntando como eu estou. Eu respondo que estou bem mas ela parece não ouvir e a ligação cai novamente. Quando o celular imediatamente toca de novo, ouço a voz dela me chamando. "Meu filho, é a mamãe... você está bem?". Respondo que sim e ela me da a notícia que eu não esperava jamais ouvir. Segundo ela, ao entrar no facebook pela manhã, havia visto a notícia da morte de alguém que ela sabe ser muito importante pra mim.
As lagrimas começam a escorrer como se já estivessem armazenadas ali há tempos esperando por esse momento para caírem. Eu só consigo dizer que não é possível que seja verdade e sinto tudo girar. A sensação de desmaio veio de uma vez e minha mãe me disse para deitar novamente, o que o fiz imediatamente.
Ao desligar o telefone e entrar em minha página do facebook, ainda deitado para me recuperar, a primeira imagem que aparece é o sorriso que ocupa o ranking invencível de sorrisos mais lindos da minha vida. Ao lado dele, uma mensagem de um suposto amigo avisando sobre o acidente fatal que havia supostamente levado para sempre as gargalhadas que eu sempre adorei ouvir. Desnorteado eu começo a ler os comentários. Alguns dos amigos mais próximos se questionando da veracidade da informação e ninguém com notícia concreta alguma. Liguei para o celular dele umas duas vezes e comecei a ligar para os meus contatos em busca do endereço dele. Enquanto rezava para que fosse uma pegadinha imbecil de alguém que havia achado o celular dele perdido e decidiu destruir minha manhã de terça feira, já chamava um táxi a caminho da casa que nunca tinha conhecido, apesar dos convites já feitos anteriormente. Quando a voz irreconhecível do outro lado do interfone finalmente respondeu, a sensação de desmaio veio novamente tamanho o alívio que se apoderou de mim. Ele estava bem. Vivo. E dormindo.
Não foi dessa vez que o dono do relógio amarelo se foi. E espero que ele não se vá nunca. Pelo menos não antes de mim. O mundo sem o som daquela gargalhada com certeza seria um mundo menos propício a ser feliz.
Uma vez, quando já não éramos mais um casal, eu disse a ele que o amava. Na ocasião ele não soube entender, ainda chateado com o rumo que as coisas haviam tomado para nós. Reitero hoje o que eu disse. Meu amor por ele nunca acabou, e nem diminuiu. Existem milhares de formas de se amar uma pessoa... e eu ainda estou descobrindo isso.
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