terça-feira, 9 de outubro de 2012

Antes tarde do que nunca

Por Vaidade

Ele era o sonho de consumo de qualquer pessoa racionalmente razoável. Era lindo. Não o mais lindo do mundo, ele não tinha aquela beleza dolorosamente chocante que enjoa qualquer pessoa depois de duas semanas de convívio. Não... ele era lindo no ponto certo. Quase não o via conversando com ninguém, estava sempre com uma expressão meio séria que o conduzia a um patamar de charme que ronda qualquer pessoa misteriosa. Não possuía de forma alguma aquele ar de quem sabe que chama atenção e acaba transparecendo uma certa arrogância desnecessária. Quando sorria, abria em seu rosto um espaço enorme e simétrico que exibia dentes perfeitos e incrivelmente brancos. Era um pouco mais alto que a maioria, o que o tornava um pouco mais charmoso. Seu corpo parecia se recusar a abrigar qualquer quantidade de gordura, todo preenchido por músculos esculpidos até o tamanho ideal. Costas largas, braços fortes, peitoral definido sempre marcando as camisetas que jamais tocavam qualquer parte de sua barriga. Nunca usava regatas ou tirava a camiseta, mas era completamente possível saber que nenhum defeito habitava toda sua perfeita extensão corporal.
Chamava Maurício, nome de homem naturalmente bonito. Sempre se achou um homem atraente, mas nunca conseguiu entender porque não fazia tanto sucesso quanto deveria. Não era bem resolvido com sua autoestima. Vivia uma luta interna sem nenhum fundamento, segundo ele mesmo. Se achava bonito, mas nunca recebia cantadas, olhadas, investidas. E era tímido.
Onde ele ia, sempre atraia muita atenção. Maurício era o tipo de homem tão bonito, que intimidava as pessoas. Ninguém se achava "boa demais" pra ele. Todo aquele conjunto de qualidades acabava afastando as mulheres, que não se sentiam boas o bastante pra ter um homem daquele.
Um dia, ao sair de um restaurante, ao caminhar em direção a porta, ele parou ao lado de uma mesa, disse "você é linda!", entregou um bilhete à moça e saiu disparado em direção à rua, quase correndo, sem olhar pra trás, sentindo que todo o seu sangue preenchia agora os músculos do seu rosto fazendo com que, com certeza, ele ficasse mais vermelho do que nunca antes na vida. Quando Ivana abriu o bilhete, viu o nome dele, o telefone e a mensagem: "Você parece ser uma mulher incrivelmente interessante. Me ligue, se quiser sair algum dia."
Ivana, que lembrou imediatamente de Maurício, pois haviam estudado juntos na pré escola e sempre foi interessada nele desde então, levantou-se e saiu correndo atrás dele. Quando chegou à porta, viu o corpo de Maurício no asfalto, atropelado segundos antes por um caminhão que passava e não conseguiu frear a tempo de atingir o homem que atravessou a rua correndo, completamente feliz e desesperado.

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