domingo, 20 de março de 2011

O objeto maldito

Por Inveja

E de repente, no meio da sua rotina diária, entra despropositadamente no metrô a pessoa que, por alguns minutos, vai me fazer querer nunca mais sair daquele vagão. Dentro daqueles minutos mínimos e mais velozes que o normal que ligam a estação Brigadeira à Paraíso, eu consigo prever o 'felizes para sempre' escrito na parte traseira do nosso carro indo em direção ao litoral. E, no instante em que se abrem as portas, antes de me deixar sem ao menos ter notado minha presença, eu vejo que ele carregava aquele objeto que nos separava momentaneamente.
E quando eu achei que nunca mais conseguiria esquecer aquele perfil aparentemente perfeito, vejo do outro lado da rua a figura que faria qualquer pessoa esquecer um amor não correspondido. Aquela pessoa que, só de ser vista, tem o poder de paralisar os relógios do mundo inversamente proporcional à velocidade com que aumenta os batimentos do meu coração. E durante aquele tempo incontável que se demora pra atravessar uma rua, meus olhos, sem piscar, paralisados naquela pessoa que passa por mim sem ao menos notar os efeitos que tinha provocado, notam a existência daquele problema que me afastaria da possibilidade de ter mudado meu caminho e o seguido até em casa. Droga de objeto inconveniente.
E daí que, após o trabalho, quando os problemas e o cansaço apagaram da memória as frustações afetivas do início do dia, voltando pra casa despretensiosamente, senta na sua frente a futura razão da sua insônia. Com aquela pele intrigante de quem parece ter acabado de sair de uma sessão de photoshop, que nunca parece ter visto uma espinha e o único conhecimento que tem de cravos é que se trata de uma flor que brigava muito com a rosa, ele inacreditavelmente te vê, e sorri. E justo quando você começa a achar que a vida nao é tão injusta assim, ele se levanta e sai do vagão naquela estação que você nem sabe o nome. E, ao olhar pra trás, na última esperança de ver um acesso de mão, só o que você consegue enxergar é o brilho ofuscante daquele objeto que resolveu aparecer na mãos de todos que deviam estar destinados a você.
Maldita aliança de compromisso!

Um comentário:

Gigi Andrade disse...

posso falar? eu DETESTO* o objeto maldito! (no meu dedo, no dos outros parece que é imã!)

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