Por Marlon Vila Nova
Eles nunca foram exatamente amigos. A mãe diz que, quando o menino nasceu, ele era o homem mais feliz do mundo. Brincava com o garoto o dia todo. Não se sabe exatamente quando começaram a não ser mais felizes juntos. Talvez tenha sido porque, como ele disse um dia, o menino tenha se descoberto "diferente".
O menino cresceu com esse afastamento e pouquíssimas lembranças de afeto existem na memória dele. Cresceram com o costume de, apesar de conviverem juntos, não se relacionarem. Nos aniversários do menino ele sempre o parabenizava, mas o garoto sempre soube que era a mãe que o lembrava da data. Ele sempre perguntava pro garoto quantos anos ele estava fazendo e dizia: "Mas ta velho, heim?". O garoto sempre respondia: "Velho está você que tem um filho ficando velho." E riam juntos.
Ele não tinha o costume de presentear. Sempre disse que era desnecessário já que o menino era presenteado diariamente com roupa, casa e comida. Mas o garoto nunca se esqueceu de que ganhou uma bicicleta de Natal quando era criança. Foi a primeira bicicleta dele.
O garoto cresceu, se mudou de cidade pra estudar e o relacionamento dos dois ficou ainda mais distante. A última vez que se viram e se falaram foi no natal do ano passado. E já estavam em julho.
Quando o garoto acordou com a mãe informando do acidente dele, achou que fosse desmaiar. Por um segundo, o chão pareceu não existir mais. Estranho. Ele não sabia que aquele sentimento forte por ele ainda existia. Durante o dia, lembrou do sorriso no dia da bicicleta. Lembrou das risadas no telefone no dia dos aniversários. Lembrou de como ele estava feliz e dançava sozinho na pista no dia da formatura do garoto. Tão orgulhoso!
"Graças a Deus ele não se foi!" - pensava o menino chorando em silêncio e percebendo o amor que, mesmo adormecido em mágoas, ainda existe por ele.